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A Flor e o Entulho

  • Foto do escritor: Laura Caria
    Laura Caria
  • 26 de fev. de 2019
  • 3 min de leitura

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Esqueçam o sarcasmo e pensem em beleza. No contexto das residências artísticas promovidas pela ArtWorks, a expressão ‘a fina flor do entulho’ passa a ser algo mais próximo da canção de Nelson Cavaquinho, A Flor e o Espinho. Num parque industrial da Póvoa do Varzim, nascem obras de arte a partir de um solo constituído por ferro, aço e vidro.

Em 2018, na sua primeira edição, as residências artísticas No Entulho convidaram os artistas Jérémy Pajeanc, Tiago Madaleno, Rafael Yaluff, João Pedro Trindade, Igor Jesus e Francisca Carvalho, a reutilizar e transformar matérias-primas excedentes do processo fabril. À sua disposição estavam todos os meios necessários para produzir com elas obras de arte em pequena, média ou grande escala. Para que isto fosse possível, ao trabalho criativo destes artistas juntou-se o conhecimento técnico de serralheiros, eletricistas, vidreiros, engenheiros e arquitetos.

Este cruzamento disciplinar não é novo para a ArtWorks, um organismo que desde 2013 se dedica a apoiar a produção de criações artísticas de nomes como João Pedro Croft, Fernanda Fragateiro, Pedro Cabrita Reis e Álvaro Siza Vieira, entre outros, e de projetos culturais como a Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra (em regime de mecenato). Este apoio vai desde a concepção das obras aos desenhos técnicos, passando pela montagem e instalação das mesmas. “Parece-me que o ambiente fabril é o ponto de partida de muitas das peças que podemos ver hoje expostas em museus, galerias, instituições, espaços públicos, entre outros. Muitos dos artistas, para poderem concretizar determinados projetos, precisam de espaços de produção muito amplos e de apoio técnico especializado, o que leva a que recorram a arquitetos e engenheiros para conceber os desenhos, e a empresas como serralharias, carpintarias ou vidrarias, para produzirem as peças. Na ArtWorks aquilo que fazemos é congregar todas estas facetas através de uma equipa nuclear de cinco pessoas – dois arquitetos, um designer de ambientes, um fotógrafo e uma pessoa formada em história de arte e curadoria – e da equipa multidisciplinar da empresa, composta por arquitetos, engenheiros, serralheiros, programadores, eletricistas, pessoal de produção, entre muitos outros. O modus operandi é diferente de artista para artista e depende da natureza do projeto. Em alguns casos, estamos muito envolvidos na própria conceção das obras, noutros compete-nos sobretudo a produção e a logística. Aqui no meio há muitas zonas cinzentas, cada projeto tem contornos únicos”, explica José Miguel Pinto, diretor da ArtWorks.

No que diz respeito às residências No Entulho, a ideia é confrontar os artistas com a dinâmica operacional de uma fábrica, colocá-los perante processos e materiais que exigem tempos diferentes dos que estão habituados. Acima de tudo, têm que criar um diálogo contínuo com os técnicos para levar as obras a bom porto. “Há que ganhar a confiança e o interesse dos trabalhadores. No fundo, é um jogo de cumplicidades”, diz José Miguel Pinto.

No final da residência, abrem-se as portas dos ateliers para mostrar as obras finalizadas ou ainda em processo de finalização – a ArtWorks compromete-se em acompanhar logística e financeiramente os projetos até ao fim, mesmo que a sua concretização exceda o tempo de residência. Os artistas não estiveram todos a trabalhar ao mesmo tempo na fábrica e as respetivas mostras também foram faseadas. A última artista a usufruir desta experiência e a expor o seu trabalho foi Francisca Carvalho. É o seu discurso direto sobre as residências artísticas No Entulho que deixamos aqui. Antes disso, entreabrimos a porta da 2ª edição, anunciado que a ArtWorks irá expandir o espectro dos convites para além das artes plásticas. A ideia será levar para o Parque Industrial Amorim artistas ligados à literatura, à fotografia, ao cinema e ao teatro.



leia mais em http://umbigomagazine.com/pt/blog/2019/02/14/a-flor-e-o-entulho/

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